Quando a decisão da separação é tomada, tanto o homem quanto a mulher geralmente estão com a sua atenção voltada para o planejamento das mudanças que vão acontecer em suas vidas e possivelmente desgastados emocionalmente com os conflitos que levaram a essa decisão. Se o casal teve filhos, esse período se torna ainda mais cansativo porque além de terem que lidar com essas questões, os pais precisam também realizar um esforço adicional para ajudar a criança a atravessar esse período de mudanças.

A criança vai precisar de ajuda para evitar que acumule muitas preocupações até que uma nova rotina possa ser organizada. Isso porque quando uma criança está preocupada, ela fica em alerta, com a sua atenção não apenas focada nas suas atividades e descobertas, mas direcionada também para os desdobramentos dos acontecimentos ao seu redor. Assim, a criança que permanece preocupada por um período de tempo prolongado fica sobrecarregada tanto física quanto emocionalmente e corre o risco de entrar em um estado de estresse.

O estresse pode ser expresso pela criança de diferentes maneiras, ela pode ficar mais dispersa e ter dificuldade de se concentrar na escola, pode ficar mais irritada, pois se sente mais cansada já que a sua energia que antes estava direcionada apenas para suas atividades agora também é utilizada para se manter em alerta. E também é possível que comece a adoecer com mais facilidade, pois o estado de preocupação por um período de tempo prolongado submete o seu corpo aos efeitos do estresse, o que pode influenciar o seu sistema imunológico.

É importante, então, que nesse período de mudanças, os pais contem para a criança quais são as decisões que estão sendo tomadas, porque conforme ela entende as mudanças que terá que enfrentar, a criança pode imaginar como será sua nova rotina e expressar as suas preocupações. Quando isso é possível, a criança pode expressar seu receio de perder o contato com o pai (ou com a mãe, dependendo quem é a pessoa que vai sair de casa), por exemplo. Ao ouvir as preocupações do seu filho, é possível agir com a intenção de acalmá-lo. Nesse exemplo, seria interessante combinar o quanto antes a frequência das visitas do pai/mãe. Desse modo, quando as preocupações da criança são ouvidas e respeitadas, ela sente que pode se aclamar e reestabelecer a confiança de que seus pais continuam zelando pelo seu bem estar.

Ao contrário, se a criança não tem espaço para se expressar, ela se sente impotente e aprisionada em suas preocupações, sofrendo cada vez mais com os efeitos do estresse. Além disso, quando não recebe informações sobre o que está acontecendo, a criança vai responder aos seus próprios questionamentos com as suas fantasias. Nessa situação, ela pode pensar que não vai mais ver o pai porque fez algo de errado. Assim, além de permanecer preocupada, a criança passa a se sentir culpada pelos acontecimentos ao seu redor.

Desse modo, quando os sentimentos acumulados ao longo da relação não obstruem o diálogo entre os pais, eles podem tentar ajudar a criança a expressar suas preocupações e mostrar que é possível tomar decisões e agir para que esse sentimento possa ser dissipado. Nesse contexto, a criança conquista uma referência importante de como enfrentar um período de mudanças e estará mais fortalecida quando no futuro tiver que enfrentar uma situação semelhante. Por outro lado, se a criança não encontra espaço para expressar suas preocupações, além de permanecer em estado de alerta e estresse, ela pode levar consigo o sentimento de culpa. Nesses casos, a separação dos pais representa um evento que pode deixar uma marca na criança e influenciar a sua maneira de se relacionar a partir dessa experiência. O que define para qual desses lados a experiência da criança vai ser direcionada é a sensibilidade dos pais para as preocupações da criança nesse período!

Carla C Poppa é doutora em psicologia clínica pela PUC-SP, professora do curso de especialização em Gestalt Terapia e de cursos de psicoterapia de crianças no Instituto Sedes Sapientiae.

Fonte do texto e da imagem: Just Real Moms