Se seu filho faz birra, isso pode estar indicando que ele está se sentindo frustrado ou oprimido no seu mundo emocional. Por isso, identificar quando e por que as birras estão acontecendo nos dará pistas sobre como podemos ajudá-los a gerir adequadamente essas emoções.

Uma vez que o escândalo tiver terminado, o que resta é uma janela para a aprendizagem, para que nós possamos refletir junto com a criança sobre o que aconteceu. Dessa forma, podemos convidá-los a refletir sobre quais poderiam ter sido os comportamentos alternativos e mais positivos diante do ocorrido, assim como podemos ensiná-los a comunicar melhor o que está acontecendo a partir de um conhecimento mais profundo de suas emoções.

A seguir, explicaremos várias estratégias que podem ser utilizadas durante e depois das birras da crianças, para convertê-las no tipo de situação da qual podemos tirar oportunidades educativas e de aprendizagem, e dessa forma tirar algum proveito delas. Vejamos a seguir.

Mantenha a calma

Perder a calma quando um filho faz birra pode complicar ainda mais a situação, já que subimos o tom e, como consequência, as crianças podem se sentir ainda mais estressadas. Além disso, é muito provável que acabemos dando um mau exemplo se agirmos assim. A tarefa do adulto é mostrar para a criança outras formas de manejar a frustração e de expressar seus sentimentos e desejos.

É importante, portanto, conservar a calma e concentrar nossos esforços em compreender a criança. Desse modo, podemos nos transformar em uma figura de referência com a qual a criança pode contar quando não for capaz de controlar suas emoções.

Não tornar a situação pessoal

Em geral, se seu filho faz birra, não está fazendo para chamar sua atenção, nem para te provocar ou te deixar com raiva. O que costuma acontecer é que eles estão se sentindo emocionalmente oprimidos pela situação em que se encontram naquele momento, e não têm ferramentas para agir de outra maneira. Sentem frustração ou raiva e as expressam através da birra.

O importante é não ficar com raiva, e nem levar para o lado pessoal, e que possam enxergar o comportamento apenas como uma forma de reagir diante de um acontecimento. Podemos ajudar a criança a entender que há outras formas de agir e de gerir aquela emoção.

Provavelmente a forma que temos para controlar as nossas emoções está relacionada com a forma com a qual nossos pais nos ensinaram a geri-las. Por isso é tão importante que o adulto entenda que ele é o principal exemplo para os seus filhos.

Se nossos pais levaram as nossas birras quando crianças para o lado pessoal, e não nos ensinaram outra forma de expressar nossas emoções, é provável que experimentemos muitas emoções negativas durante as birras dos nossos próprios filhos e que, além disso, não saibamos manejá-las de forma adequada.

Seja empático

É fundamental ter empatia com nossos filhos e com seus sentimentos, e tentar colocar em palavras simples aquilo que acreditamos que está se passando com eles. Tudo isso utilizando uma voz tranquila e acolhedora, e colocando-nos sempre na mesma altura deles para dirigir-lhes a palavra. Assim, se sentirão mais ouvidos e compreendidos.

Lembremos que as birras não são um ataque pessoal em relação a nós. As crianças são as que mais estão sofrendo ao não saber gerir os seus sentimentos negativos. Talvez nesse momento a única forma que eles têm de expressar o que estão sentindo é por meio de gritos e choros que temos que tentar traduzir, para que no futuro eles saibam se manifestar de outro modo.

Por outro lado, a empatia não significa que devemos ceder diante de uma birra. Se fizermos isso, não estaremos oferecendo ferramentas para que a criança aprenda a coordenar sua emoção. Pelo contrário, estaremos mostrando que o recurso de espernear em todos os momentos que eles quiserem algo vai funcionar. Ou seja, estaremos mostrando que se expressar através da birra é uma ótima ideia para conseguir algo.

Dessa forma, ser empático com a criança significa traduzir o que estão pensando e o que estão sentindo. Por exemplo: "acho que você está chateado porque estava se divertindo jogando, mas nós tínhamos que ir embora" ou "você só queria colocar o seu sapato, mas você não conseguiu e eu fui te ajudar e você ficou frustrado".

Dessa maneira, a criança sentirá que você está entendendo a situação, e poderá se acalmar e te escutar.

Oferecer uma alternativa e ajudar a mudar o foco de atenção para evitar que a birra continue pode ser outra boa estratégia. Isso, no entanto, vai funcionar melhor uma vez que já estejam mais calmos e se sintam compreendidos. Se fizermos isso imediatamente assim que começarem a fazer birras, poderemos provocar ainda mais frustração.

Oferecer uma fonte de contenção

Ao fim de uma birra, ou quando a criança já se acalmou um pouco, podemos oferecer a ela um abraço ou algum carinho. Também podemos convidá-la para que lave o rosto e beba um copo de água. Se ela não aceitar, podemos acompanhá-la e respirar juntos, ou explicar que ela pode pedir um abraço quando estiver precisando.

No caso da birra incluir comportamentos como bater em si mesmo, é importante que contenhamos a criança o mais firmemente possível, e que mostremos explicitamente que isso não é legal. Se a criança tentar bater em nós, temos que que segurá-la firmemente, sem causar dano ou machucar, e deixar muito claro que isso não é permitido.

Não ceder

É importante não ceder diante daquilo que a criança está querendo, ainda que elas não estejam pedindo aos gritos. Se fizermos isso, estaremos gerando o entendimento de que nossos filhos podem usar a birras para conseguir coisas, ou como meio de se expressar. Podemos, no entanto, oferecer todo tipo de atenção positiva, carinho e abraços. Isso vai confirmar que estaremos com eles haja o que houver.

Por outro lado, também podemos negociar e dar mais opções, já que é uma forma de mostrar a nossos filhos que eles são ouvidos e que seus sentimentos importam.

Aproveitar as oportunidades de aprendizagem

Uma vez que a criança esteja mais calma, podemos falar com ela sobre o que aconteceu. Deixemos que ela nos explique o que sentiu, e tratemos nós de explicar o que nós vimos e o que nós sentimos. Também podemos utilizar esse momento para pensar nas formas alternativas de enfrentar essas situações quando elas voltarem a acontecer.

Agora, se nossos filhos são muito pequenos, será necessário interpretar a situação e colocar em palavras o que estamos entendendo do que está acontecendo. Também seremos nós que daremos as soluções, até encontrar uma que seja do agrado de ambos.

Não é apropriado usar gritos nem castigos físicos.

Qualquer estratégia que provoque mais estresse pode ter consequências ao longo prazo. Por isso, não devemos fazer uso de estratégias do tipo.

Não dê explicações longas durante a birra, porque seus filhos não vão ouvi-lo. Também não é apropriado deixar a criança sozinha no quarto, nem castigá-la por isso. Desta maneira pode fazer com que tenham ainda mais problemas para lidar com suas emoções. Se seu filho faz birra em lugares públicos, não o obrigue a sair do lugar que está, nem o carregue. Mantenha a calma e ajude-o a gerir a situação e os sentimentos ali mesmo. Não se importe se os outros estiverem olhando ou com o que os outros vão pensar.

A fase de fazer birra é normal durante o desenvolvimento da criança, sempre e quando não ultrapassar determinados limites. Na verdade, elas podem se converter em oportunidades para aprender a tolerar a frustração e a expressar as emoções negativas, é uma fase benéfica. Isso é algo de vital importância para viver em uma sociedade que possui limites e normas.

Fonte do texto e da imagem: A grande arte de ser feliz