O presidente Jair Bolsonaro foi categórico: não houve ditadura militar no Brasil. A declaração foi dada na quarta-feira (27) ao jornalista José Luiz Datena e o presidente disse que durante o regime houve apenas "probleminhas".

Assim como o presidente, diversos brasileiros não acreditam que o período de 21 anos em que os militares estiveram no poder, sem eleições diretas para a presidência, possa ser visto como uma supressão da democracia brasileira, mesmo com fatos provando isso. E a psicologia ajuda a explicar esse fenômeno.

"As pessoas criaram uma blindagem e uma espécie de mecanismo de defesa para a proteção de sua referência e opinião. As vezes torcendo um pouco a forma da verdade", diz o professor Hélio Deliberador, da PUC-SP

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O médico neurologista Sigmunt Freud explica. Ele foi o criador da psicanálise e um dos responsáveis pela ênfase dos mecanismos de defesa.

Resumidamente, temos o "superego", que é o responsável por colocar a nossa moral aprendida em nossas relações pessoais em prática, o "id", que é o nosso inconsciente e origina os nossos impulsos mais primitivos de sobrevivência, e o "ego", que tem a função de administrar os dois primeiros para que a pessoa se adapte à realidade que o cerca.

Já os mecanismos de defesa podem ser definidos como uma tentativa inconsciente do ego amortecer os impactos negativos e fazer com que as pessoas se expressem de maneiras menos afoitas. Um desses mecanismos é o da negação. É o que acontece com aqueles que não admitem a existência da ditadura militar no Brasil.

Neste caso, a negação serve para não se perder uma narrativa política. Para Deliberador, em tempos de discursos tão radicais, todo o espectro político se agarra em suas próprias "verdades" para justificar uma ação – mesmo que ela seja facilmente refutada pelos fatos.

Uma ditadura, seja ela ligada à esquerda ou à direita, normalmente se mantém com a utilização da violência para coibir e reprimir opositores. Não foi diferente no caso brasileiro. Por aqui, diversas reportagens e outras formas de se expressar, como canções e filmes, foram censuradas. Logo, diversos problemas foram escondidos pelos militares durante o regime.

Daí surge a tentativa de parte dos conservadores negar que houve excessos cometidos por militares. Nos 21 anos de regime militar, 4,8 mil pessoas tiveram seus direitos políticos cassados, 2,2 mil casos de tortura foram denunciados e 423 pessoas foram mortas ou simplesmente desapareceram.


Crimes não podem ser escondidos
Um dos fatores que pode ter desencadeado essa onda de brasileiros duvidando dos crimes foi a falta de exposição e o tamanho desses problemas para as gerações seguintes. Essa é opinião de Fernando da Silveira, psicólogo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

"Esses eventos traumáticos precisam ser humanizados e debatidos pela sociedade para se entender a violência e os motivos de ela ter acontecido. Somente assim é possível criar um lugar suficientemente pacífico", afirma ele.

Ou seja, é necessária uma real discussão sobre o assunto – e não, simplesmente, tudo descambar para uma briga política. Neste caso, a Alemanha é um exemplo do que pode ser feito.

Os alemães não negam o seu passado e nem a sua história – nem mesmo momentos vergonhosos como o Holocausto. Lá, campos de concentração não ficam abertos com o objetivo de atrair turistas, mas para mostrar a todos o tamanho do estrago que o ser humano pode causar.


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