A atuação de profissionais da psicologia em ambiente hospitalar é fundamental visto que há muitos pacientes com doenças que precisam de um apoio psicológico adequado assim como os seus familiares. Nessa perspectiva é importante entender como funciona o trabalho do psicólogo, principalmente, com as pessoas diagnosticadas com doenças oncológicas, nas quais, passam por um impacto emocional e diversas mudanças em sua vida após descobrirem a enfermidade.

A psicóloga Mariana Batista Leite Leles atua em ambiente hospitalar desde 2017 e conta que o trabalho dela com o paciente começa assim que o mesmo é diagnosticado com a doença oncológica, pois, é nesta fase em que não só a pessoa enferma, mas também seus familiares sofrem mudanças e incertezas.


"O trabalho da psicologia respeita cada fase vivenciada pelo paciente e sua família, auxiliando-os na assimilação e aceitação do adoecer, estimulando-os a participação ativa no tratamento, participando das distintas fases do processo de enfrentamento que por vezes causam angústia e sofrimento", explica Mariana.


Ela também esclarece que o trabalho envolve uma tríade sendo, paciente, família e equipe, para que todos possam se relacionar de forma igualitária, com respeito uns com os outros, atuando com o mesmo objetivo que é dar uma ótima assistência ao paciente em todas as etapas da doença.

Pacientes adultos e crianças


Mariana afirma que tanto em pacientes adultos quanto em crianças o intuito é ajudar na fase de assimilação e melhor consciência da doença, nas possibilidades terapêuticas, nos aspectos emocionais e ressignificações de maneira singular com cada pessoa. No entanto, o que difere é que no contexto infantil é preciso adaptar a abordagem psicológica conforme a compreensão da criança e de maneira mais lúdica fazendo associações, principalmente, antes de iniciar os procedimentos terapêuticos.

Além disso, a psicóloga diz que outro ponto importante é a atuação psicológica com os responsáveis pela criança já que eles se encontram com seu estado emocional abalado diante desta situação. "Levando -se em conta que os pais são a figura primária de confiança da criança, é necessário que sejam cuidados e acompanhados pela psicologia, para que consigam trabalhar de modo mais adaptativo as próprias emoções, assim conseguindo ofertar apoio e estabilidade emocional a criança em todas as etapas", esclarece.

Pacientes desanimados


Segundo Mariana, no ambiente hospitalar existem pacientes que estão naquele momento cansados do tratamento, dos efeitos colaterais, das medicações e terapias complementares, e por essas razões acabam ficando desmotivados. Mas, ela explica que essa situação é esperada pelos profissionais da psicologia e cabe respeitar esta fase momentânea, acompanhar as necessidades do paciente, deixar claro suas ideias e sentimentos, e auxiliar na reorganização assim como na busca por estratégias efetivas durante o enfrentamento deste processo.

"Outra situação que não pode ser confundida, é a fase depressiva do luto. Nesta circunstância é comum que o paciente manifeste desmotivação ou tristeza, mas não há algo a ser ‘tratado’ nesse momento. Trata-se de uma fase esperada, que faz parte do caminho até a aceitação. Em ambas as situações, o que o paciente necessita é de assistência psicológica para que consiga trabalhar suas demandas emocionais, direta ou indiretamente relacionadas a doença e suas consequências", argumenta a psicóloga.

Depoimento


O Minuto psicologia perguntou para a profissional de psicologia, Mariana, qual foi o paciente que na concepção dela foi preciso realizar um trabalho mais árduo ou que houve mais dificuldade durante o tratamento e ela conta o seguinte caso:


"Houve uma paciente em especial, que passou pelo hospital por inúmeras vezes nos últimos 3 anos. Tinha 47 anos, casada, mãe de 2 filhos, pessoa totalmente ativa e dedicada a família. Ela já estava passando pela 3a recidiva do câncer, e desta vez, com metástases no cérebro e pulmão. Seu problema teve início 6 meses após perder o filho em um acidente na porta de casa. Ela ficou literalmente "atordoada" psicologicamente por cerca de 5 meses, sem saber ao certo quem era, sem conseguir retornar as suas atividades, tamanho o trauma emocional decorrente da perda, e cerca de 30 dias depois de começar a tomar consciência de si, buscou atendimento médico, descobrindo então o CA de mama, ainda em fase inicial. Trata-se de um caso bem típico entre pacientes oncológicos com personalidade tipo C. Os estudos nos indicam que a neoplasia tende a se manifestar entre 6 meses e 1 ano após a perda, e enquanto não se consegue trabalhar o trauma que originou a quebra da homeostase orgânica, as recidivas sempre acontecerão. No caso dela, ela não se permitia falar do filho, tampouco da doença. Sempre que as notícias pioravam, entrava num quadro de ruptura psíquica e se desconectava por dias. Já a família, sempre presente, não conseguia entrar em contato com a gravidade da doença, e com o risco de óbito na última internação. Acreditavam em um milagre a tal ponto, que ignoravam as informações da equipe. O desafio aqui, foi respeitar a escolha da paciente em relação às informações que gostaria de receber sobre a doença, ao mesmo tempo buscando acolhe-la e auxilia-la na percepção dos sintomas e das fases da doença, para que estando mais consciente, pudesse aproveitar melhor seus últimos momentos. Quanto a família, enfrentar as fases de negação e revolta, foram a parte mais complexa, pois em tais fases, há um impacto direto em relação a equipe médica (sensação de hostilidade, de não compreensão, de não participação, etc.), que podem originar um conflito entre família e equipe. A paciente faleceu 2 semanas depois, e a família estava em uma melhor assimilação do quadro, acompanhando-a nesse processo."


A motivação profissional


De acordo com Mariana, seu objetivo sempre foi atuar no ambiente hospitalar, pois, é por lá que diante de uma enfermidade ou risco de morte, as pessoas se encontram mais fragilizadas, angustiadas e necessitam de um suporte emocional. Ela também ressalta que por mais que a área da saúde tenha avançado a atuação nos hospitais ainda é direcionada para a doença e não para o doente, e por isso é importante que o trabalho dos psicólogos intervenha nesta realidade levando humanização para o ambiente hospitalar, para os pacientes e seus familiares.

Para quem deseja atuar nesta área da psicologia hospitalar, a psicóloga diz que a base para isso é a vocação, isso porque nem todas as pessoas que gostam deste trabalho vão conseguir enfrentar o sofrimento que existe nas unidades de saúde. Outra dica que Mariana dá é sobre o amor pela profissão, pois, é um meio que exige bastante dedicação do profissional. "Sem amor à profissão, isso não se sustenta, pois será um fardo e não um trabalho prazeroso", argumenta a psicóloga.


A psicóloga finaliza dizendo que é fundamental ter formação pois, são campos muito específicos e que exigem conhecimentos que vão além das práticas da psicologia geral. Por isso, se você é psicólogo (a) e deseja atuar na área da psicologia hospitalar você precisa de uma pós-graduação de qualidade. Conheça e se matricule na especialização em psicologia-da-saude-hospitalar-e-psicooncologia-dupla-certificacao/" target="_blank">psicologia da Saúde Hospitalar e Psicooncologia Dupla Certificação do Instituto Monte Pascoal. Seja um (a) especialista de excelência e faça a diferença no meio profissional.



Fonte: Mariana Batista Leite Leles CRP: 009442

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