O Transtorno do Espectro Autista (TEA) reúne desordens do desenvolvimento neurológico que se fazem presentes desde o nascimento ou começo da infância. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5, diz que pessoas dentro deste espectro podem apresentar déficit na comunicação social ou interação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento, como movimentos contínuos, interesses fixos e hipo ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais. No entanto, todos esses empecilhos não restringem à criança o direito de frequentar a escola e aprender.

De maneira geral, nenhuma pessoa é igual a outra sendo elas autistas ou não. Nesse sentido, a instituição de ensino consequentemente lida diariamente com crianças e jovens que possuem personalidades e comportamentos diferentes. Por isso, a inclusão de pessoas com autismo deve começar na matrícula já que se trata de um direito garantido por lei. Além disso, a escola deve promover um ambiente em que os alunos com TEA se sintam acolhidos, respeitados e recebam as oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento igual aos demais alunos.


Após esta integração participativa, os profissionais que atuam no ambiente educacional podem então apoiar estas crianças e jovens em suas especificidades. Em seguida, ao receber os alunos autistas, Joana Portolese, da ONG Autismo e Realidade, esclarece que a escola precisa ter uma conversa cuidadosa com os familiares, para que o canal de comunicação esteja sempre aberto. "A ideia é buscar entender o que a família já sabe que funciona com a criança, quais tipos de terapia e estímulos ela já está recebendo e tentar descobrir qual é o papel da escola no seu desenvolvimento", explica Joana.

Também é importante que a administração da instituição de ensino converse com os professores, mantenha reuniões periódicas para discussões, relatos de experiências e leituras. Os esclarecimentos sobre a condição dos alunos com autismo precisam ser disseminados entre o corpo docente e demais funcionários, até mesmo para descontruir certos preconceitos que podem haver, como acreditar que os alunos autistas são menos capazes. Em casos como esse é importante reiterar como estes estudantes, na verdade, têm tempos e maneiras diferentes de estabelecer relações afetivas e de ensino-aprendizagem.

No cotidiano escolar


De acordo com a psicopedagoga e assessora de inclusão, Ana Rita Bruni, no dia a dia os professores precisam dar orientações minuciosas e de maneira pausada. "Isso garante que todas as crianças possam acompanhar as instruções".

Joana Portolese também orienta que os professores deem uma noção concreta de quanto tempo há para realizar as atividades, por exemplo, dizendo "quando o ponteiro do relógio chegar aqui, o exercício termina". Recorrer a imagens, símbolos e fotos é igualmente necessário, como explica Ana Rita. "Os professores podem deixar pistas visuais, elaborar uma rotina organizada por símbolos e desenhos, e oferecer, por exemplo, um mapa em papel que mostra como chegar à cantina".

"É importante que todas as crianças estejam aprendendo o mesmo conteúdo em sala de aula. Se o ritmo do aluno for mais rápido ou mais lento, pode-se fazer adaptações e personalizações, mas nunca tirar ou acrescentar novos conteúdos, fazendo diferenciações", diz Joana.

Com os cuidados adequados, nada impede que as crianças autistas participem de todas as atividades desenvolvidas, inclusive, as que ocorrem fora da sala de aula. "Algumas crianças têm audição mais sensível, então é preciso evitar nestes casos lugares ruidosos. Outros não são tão sensíveis ao toque e podem se machucar mais facilmente. Mas nada que profissionais atentos não possam dar conta", explica Ana Rita Bruni.

A importância do coletivo


Segundo a professora Rossana, a realização de atividades coletivas é fundamental para trazer esses conhecimentos da vida. Ela relembra a história de um aluno autista que só se sentava ao lado das outras crianças no recreio quando o lanche era preparado coletivamente. "Quando as crianças traziam os ingredientes e a professora preparava os lanches, todos dividiam a comida e este aluno se unia ao grupo e interagia", conta ela.


A docente também relembra que esse momento foi muito importante também para que as demais crianças começassem a entendê-lo como igual e convidá-lo para outras brincadeiras, chamá-lo pelo nome e querê-lo por perto.

"Trabalhar com autistas é um desafio, assim como trabalhar com qualquer criança, porque todas elas trazem repertórios diferentes e têm seus próprios momentos de aprendizagem. Não podemos limitar o que vamos oferecer às crianças achando que elas não vão entender. O que se deve fazer é tentar levá-las a esta compreensão de várias maneiras diferentes, até achar a melhor", conclui a psicopedagoga Bruni.

Vale ressaltar que a inclusão da criança autista no meio escolar pode trazer benefícios como:


- Estímulo de diversas capacidades da criança


Geralmente, autistas apresentam uma sensibilidade sensorial afinada, mas, o que poderia ser visto como um problema em alguns casos, torna-se uma vantagem em outros. Isso porque, essa sensibilidade pode tornar as habilidades, como as de visualizar padrões, perceber sons e entender códigos, bem mais aguçadas em autistas.

Sendo assim, a escola tem a possibilidade de perceber e estimular essas habilidades, fazendo com que essa criança se sinta parte integrante das práticas escolares.


Ainda nesse contexto, a capacidade de interagir por meio da fala pode ser ampliada ou mesmo propiciar à criança criar a sua própria maneira de se comunicar com outras.

- Ajudar a socializar


A oportunidade de socialização inerente a um ambiente escolar deveria ser bem-vinda para as crianças com autismo, principalmente se começar bem cedo.

Essa criança pode ser incentivada a progressivamente participar de atividades diversas, ampliando, assim, as suas chances de lidar naturalmente com outras pessoas. Dessa forma, criando um ambiente favorável para o autismo e educação.

Com a rotina de interações, as barreiras de receio ao toque ou a introspecção podem ser amenizadas e permitir a essa criança uma vivência mais sociável.

- Permite toda turma aprender a lidar com a diferença


A inclusão por si só, irá proporcionar às crianças a aceitação e a capacidade de conviver com o diferente se torna uma prática positiva. Essa tolerância reflete no desenvolvimento da criança que certamente crescerá sendo uma pessoa que possui empatia e respeito com seu próximo.

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Fonte: Educação Integral, Escola da Inteligência e Autismo e Realidade

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