O luto ainda é motivo de tabu para diversas pessoas independente da faixa etária de idade. E, por mais que existam estudos científicos que tratam da morte como a tanatologia é difícil lidar com esta situação. Nesse sentido, tantos os adultos quanto as crianças podem sofrer com a perda de um ente querido. Mas, como ajudar uma criança nesse momento? Como explicar a uma criança que um parente de quem elas eram bem próximas já não vai estar nas próximas reuniões de família?


Explicar para alguém que tem menos de 10 anos sobre a morte não é uma tarefa fácil, talvez resguardá-las desse momento seria melhor, no entanto, é necessário explicar a natureza do luto. Até porque, há fatores de risco ligados à não-elaboração de uma perda, impossibilitando o desenvolvimento emocional, cognitivo e relacional na infância e, posteriormente, na vida adulta.

De acordo com a psicóloga Ana Caroline Bonato da Cruz, muitos adultos responsáveis pela criança têm a tendência de não serem claros ou ficarem com medo de causar sofrimento nos pequenos ao falarem a verdade. Mas, o fato de dizer que aquele ente querido está dormindo para sempre, pode acabar se tornando algo traumático. "A frase ‘Vovô dormiu para sempre’, pode fazer com que a criança passe a ter medo de dormir e ter o mesmo destino daquela pessoa", comenta.

Outras explicações que são frequentes e que também podem causar confusão ou surgir fantasias e dúvidas maiores nas crianças são: "foi para o céu", "virou estrelinha". Elas merecem saber a verdade, por isso, é preciso falar claramente e dar tempo para que haja compreensão. Para a explicação adequada é necessário levar em conta a idade da criança, pois a sua experiência de vida e a sua personalidade são fatores que influenciarão diretamente em sua postura para enfrentar a perda.

Além disso, o grande foco do problema é que uma criança, geralmente, não tem dimensão do que é a morte em si.

Crianças em idade pré-escolar


Segundo o psicólogo especializado em luto, Luís Henrique Michel, até por volta dos cinco anos a criança vê a morte como algo que pode ser revertido ou alterado em algum momento. Em idade pré-escolar, normalmente, as crianças associam a morte como uma viagem. Dessa forma, a compreensão do "para sempre" não é atingida com facilidade.

Entre cinco a dez anos


Nesta fase da vida é mais comum que a criança comece a encarar o conceito real da morte, ainda que não pense que ela própria os ou seus entes queridos corram o risco de passar por isso. O psicólogo Luiz Henrique Michel, explica que entre os cinco e os nove anos, ela vê a morte como algo que é o final da vida, mas acredita que pode escapar de sua própria morte. Só a partir dos nove, em geral, ela costuma compreender que a morte é mais do que um final, é algo inevitável.

"Ainda assim, o modo de uma criança receber a morte nunca será exatamente igual ao de outra", diz Luiz. É fundamental ver nesse momento a importância que aquele que faleceu tinha na vida da criança. "É sempre importante questionar: ‘Qual o lugar que aquele que faleceu ocupava na vida do enlutado?’ Todo luto é único, porque toda relação é também singular", completa.

Sintomas


Certos indícios podem se tornar frequentes na vida da criança, tais como:


Medo excessivo do escuro, chegando a provocar pânico e pavor;

Dificuldades para ficar sozinha;

Interação social afetada – a criança pode se negar a brincar ou interagir com outras pessoas, isolando-se do mundo;

Rendimento escolar enfraquecido.

A criança também pode apresentar o que conhecemos como "luto patológico", que é quando ela perde o interesse até mesmo pelas coisas que antes a atraíam, perde o seu apetite, manifesta desejos de partir com o falecido, se irrita ao falar sobre o ente que perdeu ou fala do mesmo em excesso.

Como explicar para a criança que alguém próximo a ela faleceu?


Como foi dito acima é preciso falar claramente e dar tempo para que haja compreensão. Vale também responder aos questionamentos e respeitar seus limites e capacidades, sobretudo em ambientes carregados de emoções como no caso dos velórios. Para prover o amparo, é necessário explicar como será este "durante", contando que o corpo da pessoa que morreu fica numa caixa especial, para que os familiares e amigos possam vê-la uma última vez. Também é importante avisar que haverá pessoas chorando e que a pessoa no caixão não sente mais dor, frio ou qualquer desconforto.


Depois de explicar como será a situação no velório, é importante perguntar se é da vontade da criança ir ao velório e só levá-la em caso de resposta afirmativa. Não é adequado obrigá-la a ir em hipótese alguma, ou então, negar o direito de participação. Após esse tempo, a criança pode se deparar com sentimentos do luto, com a possibilidade de apresentar agressividade, tristeza, raiva. Mas, ainda sim é mais importante oferecer compreensão do que obrigá-la a comer corretamente, fazer a lição ou ir para a cama cedo.

A expressão de qualquer emoção vivida pela criança deve ser compreendida, e os responsáveis devem fazer o melhor dentro do possível em cada momento, mesmo admitindo que a morte faz parte de um mistério da vida e que ninguém sabe exatamente o que acontece depois. Também é válido fazer uso das crenças familiares ou até mesmo reconhecer a existência de outras, exercitando assim a diversidade.


O adulto que convive com a criança pode chorar junto da criança, mostrando que mesmo que sinta falta de quem partiu, há esperança de que a dor diminua e que existem formas de ficar um pouco melhor.

Além disso, crianças precisam de diferentes formas de expressão dos sentimentos como dar uma volta, ligar para um amigo, escrever um diário, desenhar, entre outras atividades. É bom também que a criança veja fotos, ou assista vídeos, relembrando o passado. Isso torna o futuro mais possível. Sendo assim, os adultos não devem tentar tirar as memórias dela como uma tentativa, equivocada, de tirá-la da dor.

Sugestões


Permita que a criança leve flores para colocar no caixão, essa atitude pode ser uma forma dela se despedir;

Permita que ela assine o livro de presença;

Não esconda sua tristeza ou das outras pessoas presentes. Caso ela pergunte porque você ou outra pessoa está chorando, conte a verdade e explique que sentirá saudades do ente falecido, pois ele não voltará mais;

Não omita a verdade sobre a causa da morte, mas, evite detalhes, principalmente se a causa da morte for trágica;

Caso a criança peça, deixa-a ver o rosto do falecido e permita que o abrace e beije, se esse já fosse um costume antes do falecimento;

Se a criança fizer perguntas como "Por que as pessoas morrem?", "O que acontece depois que morrem?". Não tente responder todas as perguntas sobre o significado da vida. Não tem problema, e talvez seja até melhor, admitir que você também se sente confuso com as mesmas questões.

Se você atua na área da psicologia e deseja aprofundar seu conhecimento acerca do luto para melhor atender seus pacientes, saiba que o Instituto Monte Pascoal possui a pós-graduação certa para você. A especialização em Cuidados Interpessoais em Situações de Morte, Perdas e Luto, possui o módulo A morte e o Luto nos Ciclos do Desenvolvimento: Infância e Adolescência; e vários outros que serão de suma importância na sua vida profissional. Matricule-se e desperte o (a) especialista que há em você.


Fonte: Cartilha de Orientação ao luto Parental, Gazeta do Povo e psicologia-infantil/como-ajudar-uma-crianca-a-entrentar-o-luto/" target="_blank">Psicólogo e Terapia
Imagem: 123RF